quarta-feira, 28 de maio de 2014

Além do mundo

E aí a todo momento eu percebo o quanto tento me enganar. Sempre tentei me enganar. Tentar focar só no material. Tentar não pensar no que há além, se não eu surto.
Coisas não me trazem nada. Nem pessoas... Nada, nada! Absolutamente nada! Nada me anima, nada é duradouro, acho que não quero mais nada.
Focando só aqui, me transformando em alguém comum e ordinário eu não percebo o quanto minha existência é infeliz e insignificante. Com a cabeça ocupada e distraída não tenho tempo para lembrar disso...
"Vou com os outros pro abate, o meu dono vai lucrar"

Isso não pode ser comentado... ou compartilhado... quem entenderia essa maluquice?
Quando me sinto sozinha eu fico, de fato, sozinha.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O meu sofrimento de onde vem?

Só sei que se materializa na minha pele, invade-me os pensamentos, explode-me os sentimentos, aperta-me o coração,
Apodera-se do meu corpo por inteiro,
Será que fui feito para sofrer, para me sentir perdido, fora de mim, tomado pela loucura, pelos desejos, pela procura do êxtase?
Só sei que deliro de sofrimento, arrebatado pelas minhas memórias cortantes, pelo meu presente ansioso, pelo meu futuro esvanecido,
Também eu me sinto a esvanecer, a perder as forças,
Quem aguenta tanto sofrimento?
Desejo sentir-me bem, sem ter de enfrentar as minhas batalhas mentais, sem ter de sentir a dilacerar-me por dentro,
Como desejava ter mais força emocional, saber distanciar-me da dor, não deixar que se torne em sofrimento,
Sinto-me num casulo de dor, sem perspectiva de melhoria,
Mas que visão horrenda é esta?
Preciso de um vislumbre de alívio, por momentos que seja, desejo muito mesmo, nem que seja por segundos, preciso distanciar-me da minha dor,
Tenho de perspectivar um caminho,
Tenho de me agarrar a algo,
Sinto dor, mas não quero sofrer, sei que não posso não sentir dor,
A dor da perda, a dor do fracasso, a dor da desilusão, a dor da decepção, a dor da falta de afeto, da falta de reconhecimento, da falta de compaixão dos outros, da insensibilidade generalizada do mundo,
Como posso não sentir dor?
Aprendi que não posso não sentir dor emocional, mas que posso não sofrer,
Consigo perceber que sou maior que a minha dor,
Que sou o desejo de melhorar, sou também a vontade de percorrer novos caminhos, de traçar novos objetivos, de voltar a sentir-me bem, de voltar a sorrir, a sentir o prazer do sol,
Sim, mesmo com dor tenho ainda a capacidade de contemplar, até mesmo de ajudar quem me é querido, de dar a mão,
Mesmo com dor, continuo a conseguir perceber que tenho em mim a capacidade de seguir em frente,
É esta consciência que tenho de ser maior que a minha dor, que me permite entender que posso não sofrer,
Que posso deixar de ter autopiedade, que posso deixar de me vitimizar,
Possuo imensos recursos que quando colocados em ação me abrem a um mundo de possibilidades,
A possibilidade de olhar para a minha dor, não me confundir nem fundir com ela,
Distancio-me e sigo, maior, mais forte e mais ciente que sou tudo isso,
Sou dor, sou desejo, sou alegria, sou futuro, sou amigo, sou filho, sou força, sou fé, sou esperança,
Sou tudo isso para além da minha dor,
A dor expressa-se em mim, mas eu não expresso a minha dor em sofrimento,
Aceito-a, contextualizo-a, separo-me dela, até que se extinga na imensidão da riqueza da minha vida.



Miguel Lucas